Quarta-feira passada o telefone tocou aqui em casa, minha esposa atendeu e soltou o "Gustavo Duarte!" que tradicionalmente abre as nossas conversas telefônicas. A alegria do início virou silêncio, o silêncio virou um "não acredito!" repetido sei lá quantas vezes e aí eu percebi que tinha alguma coisa muito errada acontecendo.
Peguei o fone e o Gustavo soltou de novo a bomba, agora pra mim: "acabou, Mario Alberto, fui demitido do Lance".
Sem exagero, o tamanho do vazio é o mesmo que se sente depois de ter perdido alguém muito querido. Claro, não falo do Gustavo porque ele está bem vivo e arrebentando como sempre, mas me refiro à nossa parceria de 12 anos, encerrada na semana passada. Ainda não me acostumei a abrir o Lance e não ver o desenho do Gustavo. Quando lembro que as linhas elegantes carregadas de humor "gustavoduartiano" não estarão mais lá, me vem aquele frio na barriga acompanhado da tristeza por algo que não existe mais.
Já disse e escrevi uma dezena de vezes e vou escrever novamente: eu tenho absoluta convicção que hoje sou um ilustrador muito melhor do que seria se não tivesse tido a companhia do Gustavo Duarte nas páginas do Lance durante esses 12 anos. Não dá pra colocar em palavras o quanto eu cresci e aprendi apenas usufruindo do privilégio de ver as charges, caricaturas e ilustrações do Gustavo diariamente logo ali na página ao lado. Isso sem contar a questão pessoal, afinal irmão a gente não encontra em qualquer esquina. Muito menos um irmão que nem 429 quilômetros de distância fizeram ser menos irmão do que os (raríssimos) irmãos que encontramos pela vida.
Enfim, a perda é grande e irreparável. Até quarta-feira passada eu tinha uma tabelinha inspiradora com um dos maiores artistas gráficos que já vi, agora me sinto sozinho chutando uma bola contra a parede. Enfim, segue o jogo. Assim como seguirão os papos telefônicos, as idas a São Paulo, as vindas pro Rio, os chopps com bolinho de arroz no São Cristóvão, os chopps com filé a Tavares do Serafim, a admiração, a amizade, o companheirismo e tudo o mais que conquistamos nesses 12 anos.
O desenho aí de cima é de 2005. O traço é do Gustavo e a pintura, minha. Ele foi feito aqui no Rio, numa das vindas do Gustavo pra cá e é um dos dois legítimos "Gustavo Duarte + Mario Alberto" de fato que existem no mundo, o outro está
aqui.
Qualquer hora, a gente faz outro. Sem obrigação, sem fechamento, só pelo prazer de ser parceiro de traço de novo.
PS.: O Gustavo também escreveu sobre isso no blog dele,
link.